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Elizabeth Garone
Pouco depois, percebeu o erro. O amigo se acostumou a contar aos demais funcionários detalhes do que os dois aprontavam na época de faculdade – e isso foi só o começo.
“Foi um pesadelo”, lembra Raftis, hoje executivo de contas em outra empresa. “Por causa de nossa amizade, ele ia e vinha quando queria e tomou liberdades que outros empregados jamais tomariam.”
Infelizmente, Raftis teve que demitir o amigo. Seu conselho, hoje em dia: “Prefira estranhos. Eles são mais fáceis de chefiar e mais fáceis ainda de demitir, se for preciso.”
Decisão pensada
Seja um chefe ou um subordinado, misturar amizade e trabalho traz potenciais armadilhas. Antes de contratar um amigo – ou antes de ir trabalhar para um amigo -, é fundamental pesar todos os prós e os contras.
Uma contratação ruim pode prejudicar sua reputação e reflete mal em como os outros percebem sua capacidade de julgamento, sem falar nos riscos para a própria amizade.
Além disso, as personalidades podem mudar – nem sempre para melhor – quando amigos se tornam colegas de trabalho.
“E se o amigo for super-competitivo e quiser superar você, atrapalhando relações de trabalho já existentes?”, pergunta Nancy Keene, fundadora da The Perfect Fit, uma consultoria em liderança de Dallas, no Estado americano do Texas.
Oficialize a situação
Para Keene, a vontade de ajudar um amigo pode detonar uma série de problemas.
Por isso, uma maneira de manter a amizade intacta e ainda ajudar o amigo a conseguir um emprego é passar a decisão para o departamento de recursos humanos.
É comum que empresas e executivos de recrutamento busquem referências entre os próprios funcionários. Se for uma organização grande, o amigo vai ter de enfrentar o mesmo nível de escrutínio e avaliação que qualquer outro candidato. “Se ele não conseguir o emprego, você não será responsabilizado. E se ele for contratado mas as coisas não derem certo depois, você continuará de mãos limpas”, afirma a consultora.
É claro que contratar um amigo nem sempre traz consequências desastrosas. Se vocês já trabalharam juntos antes e agora estão novamente na mesma equipe, a experiência pode trazer vantagens para os dois lados. Vocês já conhecem a ética de trabalho um do outro e isso pode ser positivo.
“Quando um amigo pede para você ir trabalhar com ele, a sensação pode ser de reconhecimento e apoio”, afirma Lorraine Tilbury, fundadora da firma de desenvolvimento pessoal e profissional HorsePower International, com sede na França.
Os dois lados da equação
Os prós e contras agem nas duas direções. “Se você é quem está sendo contratado por um amigo, tente avaliar a oportunidade da maneira mais objetiva possível”, recomenda Andrea Bonior, psicóloga e autora do livro The Friendship Fix.
“Você precisa pensar se se trata de um bom emprego para você, independentemente do fato de seu amigo trabalhar ali”, diz ela. “Pode ser que você esteja inclinado a aceitar apenas para estar perto do amigo e talvez não esteja sendo realista em relação ao emprego.”
Por exemplo, você refletiu direito sobre questões como salário, benefícios, praticidade para se deslocar, oportunidades de subir, ou se é uma posição desafiadora?
“Às vezes os amigos querem ajudar e acabam oferecendo algo que você não acredita ser o melhor para você”, diz Tilbury. “Pense muito bem nos prós e contras do emprego como faria com qualquer outro.”
Coloque tudo por escrito
Você conhece bem esse amigo? Você confia na maneira de ele fazer negócios? E o que acontece se a experiência não funcionar?
“Essas são perguntas que você deve se fazer antes de se comprometer a trabalhar para um amigo”, indica a britânica Anita Pickerden, mentora de equilíbrio no ambiente de trabalho.
Não interessa o quanto você acha que conhece a pessoa. É preciso ter todos os detalhes do emprego por escrito antes de começar. “Vocês podem ser bons amigos agora, mas se romperem no futuro, será bom ter uma prova do acordo original”, avisa ela.
Segundo Tilbury, é natural que haja algum tipo de conflito: “Não importa quão forte é a amizade, sempre haverá desavenças, por isso é fundamental conversar antes sobre como elas serão gerenciadas”.
“É importante fazer as mesmas perguntas que você faria a qualquer possível novo chefe”, diz Rich Wellins, vice-presidente da Development Dimensions International, empresa americana de consultoria em recursos humanos. Antes de dizer “sim”, pergunte-se: “Tudo bem ter uma relação de hierarquia no escritório e outra mais igualitária fora? Você está disposto a apoiar seu chefe mesmo se discordar dele? Você entende claramente quais são seus objetivos e expectativas antes de alguém dizer?”.
“Seu emprego importa tanto quanto – ou até mais – do que seu relacionamento com o amigo”, lembra Wellins. “A pessoa para quem você trabalha é algo importante mas não é tudo. Muita gente acaba trabalhando para amigos. E na maioria das vezes tudo sai bem.”
Quando Jason Raftis era gerente de vendas em uma revendedora de carros na Flórida, decidiu oferecer uma vaga em seu departamento a um amigo de longa data.
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