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Nos momentos de incerteza, muitos empreendedores perdem a esperança. Mas é isso justamente que eles deveriam vender

Marcelo Nakagawa

Durante a crise de 1929, durante o momento mais sombrio da economia norte-americana, que praticamente levou o mundo inteiro à recessão, seria loucura criar uma revista de negócios. Enquanto a economia retrocedia e as pessoas faziam fila nos locais em que eram oferecidos café e donuts aos desempregados, o jornalista Henry Luce pensou em uma publicação luxuosa que oferecesse exatamente o contrário do que todos estavam vendo naquele momento: fortuna. Lançada em 1930, a revista Fortune se tornou um sucesso imediato, pois mantinha aceso o desejo por dias e negócios melhores. De escura bastava a realidade.

E era justamente na escuridão que vivia Charles Darrow. Em 1929, ele era apenas um dos milhões de norte-americanos desempregados. Após alguns anos fazendo pequenos trabalhos temporários, ficou encantado com um jogo de tabuleiro que havia deixado todos os seus amigos viciados. Decidiu criar a sua própria versão em 1934, mas nenhuma empresa se interessou. Só depois de ter produzido e vendido cinco mil unidades, seu jogo chamou a atenção dos fabricantes. No Monopoly (conhecido como Banco Imobiliário no Brasil), era possível estar com muito dinheiro na mão (mesmo que fictício), e com ele comprar terrenos e imóveis. Mesmo que por algumas horas, as pessoas ficavam iluminadas e felizes.

Mas o sucesso do jogo de Darrow foi obscurecido cinco anos depois, quando teve início a Segunda Guerra Mundial. O problema já não era apenas econômico, mas social. Nos Estados Unidos, muitas famílias perderam pais e filhos. Na Europa destruída, as pessoas tentavam reconstruir suas casas, negócios e vidas. Foi nessa Itália obscura que Pietro Ferrero viu uma oportunidade. Num momento em que não havia mais suprimentos de quase nada, muito menos de cacau, ele criou uma pasta marrom que levava pasta de avelãs (um produto abundante na região), açúcar, óleo, leite e apenas um pouco de cacau. Como era barata, sua Pasta Gianduja, como foi chamada inicialmente, era oferecida gratuitamente para as crianças por vários mercadinhos. Era só chegar com uma fatia de pão na mão que o vendedor passava uma camada dessa pasta. Não é difícil imaginar o sorriso de uma criança se iluminando diante de um pão com Nutella, como o produto foi rebatizado depois. A Ferrero, empresa criada por Pietro, foi sua forma de tornar a vida amarga dos italianos – literalmente - mais doce.

Estes e vários outros negócios que prosperaram em momentos de crise demonstram o óbvio: nos momentos de escuridão, venda a luz!

O problema já não era apenas econômico, mas social.

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