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São Paulo - Não faz muito tempo, os executivos da área de recursos humanos estavam acostumados a receber ligações das mulheres de seus empregados. Elas queriam informações sobre benefícios como o auxílio-creche ou saber quanto tempo durava a licença paternidade, mas os maridos tinham vergonha de ir ao RH tratar desse tipo de assunto.
“De uns anos para cá, temos notado uma mudança de comportamento. Agora, eles vêm perguntar com muita naturalidade”, afirma Roseli Alvarez, superintendente de RH do banco Santander, tendência que tem se fortalecido diante das grandes transformações culturais pelas quais o mundo vem passando nas últimas décadas.
Entre essas transformações estão a maior presença de mulheres em postos de liderança (com jornada de trabalho prolongada), necessidade de que os homens assumam mais funções domésticas e a menor oferta de serviços de babás e empregadas domésticas.
Segundo os dados da última edição do Guia Salarial Hays Insper, nas empresas que oferecem benefícios como jornada flexível e possibilidade de trabalho remoto — políticas criadas para facilitar a vida de trabalhadoras com filhos —, os homens são a maioria dos adeptos.
Enquanto 77% deles optam por mudanças no horário de trabalho ou por ficar em casa alguns dias da semana, a porcentagem de funcionárias que utilizam algum desses benefícios é de 73%.
“Ficamos surpresos com os dados. A expectativa era que as mulheres fossem as maiores usuárias desses benefícios”, diz a economista e professora do Insper, Regina Madalozzo, coordenadora do estudo. O alto índice de aceitação de políticas como a jornada fexível e o home office é motivado por uma série de fatores.
O trânsito nas cidades e a possibilidade de ir à academia em horário mais tranquilo são alguns deles. “Nós notamos também uma grande busca de gente interessada em estar mais com a família”, afirma Claudia Pohlmann, diretora de RH da DuPont, que oferece a jornada flexível e o home offiice aos funcionários do escritório.
Estar mais tempo com os filhos foi justamente o que motivou o diretor da área de previdência da DuPont, Alexandre Carvalho, de 42 anos, a mudar seu horário de trabalho. Pai de dois filhos, ele só chega ao escritório às 9h30, em vez de seguir a jornada-padrão da empresa, que começa às 7h45. “Com isso, consigo tomar café da manhã com as crianças e arrumá-las para ir para a escola”, diz.
Divisão de tarefas
Se no passado criar os flhos e cuidar da casa era papel feminino, hoje a divisão de tarefas entre o casal é um comportamento esperado e incentivado.
Segundo levantamento do instituto americano Pew Research, na metade da década de 60 os homens dedicavam 4 horas por semana aos afazeres domésticos e 3 horas aos filhos, enquanto trabalhavam durante um total de 42 horas semanais. Em 2011, os números tinham mudado para uma média de 10 horas aplicadas nas tarefas do lar, 7 horas no cuidado com as crianças e 37 horas de trabalho remunerado.
Não há dados específcos para o Brasil, mas especialistas acreditam que a mudança comportamental seguiu o mesmo padrão. Muito desse quadro se deve à maior inserção das mulheres no mercado de trabalho. “Com as duas partes do casal trabalhando fora, é preciso
haver alguma coordenação entre elas”, diz Cesar Bullara, professor do ISE Business School, com campus em São Paulo.
Não é mero acaso que algumas empresas comecem a oferecer benefícios como a licença-paternidade prolongada. As leis trabalhistas brasileiras preveem que o período que o pai pode se manter afastado do trabalho após o nascimento de um filho é de apenas cinco dias corridos.
Em algumas empresas, porém, é dada a oportunidade de períodos mais longos. É o que acontece no Google, que oferece quatro semanas de folga aos funcionários que acabaram de se tornar pais.
O engenheiro Waldemir Monteiro, de 45 anos, se interessou em trabalhar na Chemtech depois de fcar sabendo que a companhia de engenharia carioca oferece uma licença de 15 dias aos pais de recém-nascidos. “Achei muito interessante esse tipo de benefício”, afirma.
Funcionário da Chemtech há seis anos, Waldemir teve sua primeira flha no ano passado. “Estar ao lado de minha esposa nos primeiros dias foi importante para mim, para ela e para a bebê”, diz. O interesse pelo benefício costuma ser ainda maior quando a esposa do funcionário não apresenta essa mobilidade de horários.
É o que acontece com Eduardo Frade, de 42 anos. Pai de dois filhos, Eduardo trabalha há seis anos como gerente de contas na Cisco, que oferece a possibilidade de home office aos funcionários. A mulher de Eduardo trabalha no mercado financeiro e não tem como coordenar os próprios horários. Com isso, acaba sendo ele quem dá conta de compromissos como ir a reuniões na escola das crianças ou fcar em casa quando a babá não pode trabalhar.
“Essa é uma cultura muito forte da empresa, aplicada em todas as unidades ao redor do mundo. Funcionários novos até costumam estranhar a força que isso tem aqui dentro”, diz Silvio Paciello, diretor de RH da Cisco do Brasil. No país, as companhias ainda deixam bastante a desejar nesse aspecto.
Uma pesquisa realizada pelo ISE Business School apontou que apenas 31% das empresas brasileiras criam ambientes equilibrados para seus funcionários. No mundo, o índice é de 44%. “Com a disputa por bons profissionais, os empregadores devem aumentar a preocupação com a qualidade de vida dos funcionários”, diz Cesar, do ISE.
Os homens recorrem mais do que as mulheres a benefícios criados para permitir às mães trabalhadoras equilibrar trabalho e atenção à família.
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