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Autor: Mariana Missiaggia
Eles cresceram com celular nas mãos e fones nos ouvidos, e agora já estão se preparando para entrar no mundo corporativo
De acordo com estimativas, a geração Z, que compreende os nascidos entre 1994 e 2010, deverão representar 20% da força de trabalho mundial até 2020.
Ansiosos e dinâmicos, esses jovens, de acordo com pesquisas, entendem que o trabalho é apenas uma parte, e não a principal razão de vida deles.
Diálogo com o chefe, liberdade para resolver emergências pessoais, e ambiente agradável são algumas das aspirações que aparecem em levantamentos sobre o que esse público espera do primeiro emprego.
Uma delas, conduzida pela consultoria Universum, reúne a opinião de cerca de 50 mil formandos do ensino médio em diferentes países -inclusive o Brasil -sobre suas futuras carreiras, a validade do ensino superior e sua vida pessoal.
Menos otimista que as gerações anteriores sobre o seu padrão de vida, a pesquisa mostra que apenas 55% dos entrevistados acreditam que irão superar seus pais nesse aspecto –comparados a 71% da Geração Y (nascidos entre 1980 e 1990).
Outro dado revela também que 62% dos jovens da geração Z estão abertos à ideia de começar a trabalhar logo após concluir o ensino médio ou abrir a sua própria empresa, em vez de buscar um diploma universitário.
Tudo pelo bem-estar na vida pessoal e na profissional. Danilca Galdini, sócia-diretora da Nextview People, explica que para esses jovens, trabalhar é, acima de tudo, ocupar um lugar no mundo: “Eles buscam uma oportunidade para contribuir com um propósito maior”.
A chegada dessa nova geração ao mundo corporativo causa alguns impactos. Isso porque, segundo Danilca, se tratar de um contingente muito envolvido com causas sociais. Gente que gosta da ideia de fazer do hobby um trabalho, e que, acima de tudo, está disposta a questionar hierarquias dentro das empresas.
Conectados com o mundo digital, os jovens que nasceram em meados nos anos 1990 chegam ao mercado de trabalho esperando encontrar um ambiente semelhante ao seu universo -veloz, interativo e integrado.
Essa não é, porém, a realidade que os recém-chegados ao mercado encontram. Por isso, entender essa turma está entre as principais missões das empresas, diz Danilca.
“Percebemos que as organizações estão atentas, mas não estão prontas para isso”, afirma ela. “As empresas vão ter que repensar seus valores para oferecer um propósito. É isso o que eles".
Trata-se, portanto, na avaliação de Danilca, de um desafio para as empresas, principalmente no que se refere à gestão, motivação e retenção de talentos.
É preciso lembrar que a insatisfação com os atuais sistemas de gestão nas empresas não é uma exclusividade desse público, de acordo com um levantamento do Nube (Núcleo Brasileiro de Estágios) realizado com 10.258 jovens de todo o país, de 15 a 26 anos – mesclando as gerações Y e Z.
Confrontados com a pergunta “se você pudesse mudar algo no mundo corporativo, o que seria?”, 36,5% dos entrevistados revelaram que acabariam com a hierarquia dentro das empresas.
Para Yolanda Brandão, coordenadora de treinamento do Nube, o papel do líder se transformou nas últimas décadas, e passará por mudanças ainda maiores com a chegada da geração Z.
Em sua agenda, deve haver tempo para a equipe, e para compreender quais são suas metas na vida, tanto no aspecto pessoal como no profissional.
Isso possibilitará desenhar estratégias e acompanhar o desenvolvimento dos colaboradores individualmente, de acordo com a especialista.
Como exemplo, Yolanda cita a americana Zappos, uma das estrelas do varejo eletrônico. Em 2014, o CEOTony Hsieh anunciou a eliminação de todos os cargos corporativos e reorganizou a companhia seguindo o conceito de holocracia, que substitui o poder de uma estrutura hierárquica, por um sistema de distribuição da autoridade.
Na prática, o que houve foi uma organização dos 1.500 funcionários em equipes com tarefas a serem realizadas, eliminando as pirâmides definidas por cargos e funções.
Sem títulos de chefia, quem era gerente pode vir a receber ordens hoje, tudo em prol da flexibilidade e da produtividade.
De acordo com a coordenadora da Nube, para que esse modelo, de fato, funcione, é essencial o engajamento e autonomia dos envolvidos, pois todos passam a ser responsáveis pela tomada de decisões. "É preciso foco e organização para não se perder em meio a tamanha liberdade”.
Com 8.653 funcionários de até 22 anos em programas como jovem aprendiz, estágio e trainee, a geração Z já representa 19% do quadro total de empregados do Santander.
A chegada desse novo grupo obrigou a companhia a formular uma nova estrutura de trabalho.
"Como acreditamos na troca de experiências no ambiente de trabalho entre as gerações, optamos pelo mentoring cruzado", diz Vanessa Lobato, vice-presidente de recursos humanos do Santander.
A metodologia propõe que o jovem exerça mais de uma função na companhia de representantes de outras gerações, como a X, Y e baby boomer, proporcionando uma troca de liderança entre eles.
O modelo trouxe novas reflexões aos processos tradicionais do banco, que, inevitavelmente, terão de ser revistos num futuro próximo. A carga horária, o pacote de benefícios e a remuneração propostos pela empresa são alguns exemplos.
De acordo com Vanessa, benefícios como vale-transporte ou auxílio-combustível não correspondem à realidade dessa geração.
“Eles são adeptos de caronas, bicicletas e corridas. Além disso, não se encaixam em horários de trabalho rígidos”, diz. “Observamos que eles chegaram com novos valores, e têm muito a nos ensinar”.
Nascidos na era da internet, esses jovens não gostam de hierarquia, e esperam um ambiente corporativo semelhante ao seu mundo: veloz, interativo e integrado.
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