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Estamos diante de um novo momento de ruptura comportamental, semelhante ao que se viu nos anos 1960-1970. Novos costumes culturais surgem com maior velocidade, e a adaptação constante é agora uma necessidade básica diante dos avanços tecnológicos.
Para tornar o contexto ainda mais complexo, as mudanças não acontecem todas de uma vez, elas vão se instalando em ritmos distintos. Algumas vezes a novidade surge e é assimilada em poucas semanas, como ocorre atualmente com as TVs de Led em 3D e os smartphones. Outras vezes ela surge de modo mais orgânico, leva anos para ser incorporada e só é percebida quando já faz parte de nosso estilo de vida, como aconteceu com os e-mails, a internet e os celulares, para os quais foram necessários quinze anos até se tornarem tecnologias comuns, quase sempre indispensáveis.
Contudo, não é apenas na tecnologia que está o desafio de adaptação, mas também nas relações pessoais que são comandadas por comportamentos, atitudes, objetivos, expectativas e sonhos. Estes elementos, que formam o novo padrão de relacionamento, também mudaram de forma profunda e já não possuem muitas conexões com os modelos e referências do passado.
Um erro muito frequente é pressionar as pessoas a adotar posturas e fazer escolhas usando as mesmas premissas que foram utilizadas com sucesso em outra época. Parece óbvio que essa atitude irracional dificilmente trará efeitos positivos, entretanto é isso o que se espera, pois é com estas referências que as pessoas são julgadas, principalmente os jovens. Um exemplo de premissa deslocada no tempo é a questão da relação do empregado com a empresa. Por muito tempo, valorizou-se o funcionário que dedicava toda sua vida para uma mesma empresa. Atribuíam-se a esse servidor algumas características comportamentais que certamente moldariam seu futuro profissional, contudo, no contexto atual, dificilmente seriam consideradas.
As características mais comuns eram:
1. Fidelidade corporativa: a medida de confiança depositada pela corporação estava diretamente ligada à capacidade do funcionário em se desvincular de qualquer realidade exterior, principalmente aquelas que envolvessem empresas concorrentes. A simples atitude de se colocar em posição de receber uma proposta para sair da empresa era considerada um ato de traição com a consequente ruptura de contrato.
Essa característica era relevante quando se tratava de preservar segredos e estratégias empresariais. No entanto, o contexto atual, marcado por fusões e incorporações globais, levou o conceito de fidelidade a um novo entendimento, passando obrigatoriamente pelo alinhamento dos valores pessoais com valores corporativos.
2. Comprometimento: a dedicação quase religiosa às causas da empresa gerava profissionais dispostos a omitir-se de dimensões importantes em suas vidas, como família e saúde, e muitas vezes anular os próprios objetivos profissionais, inclusive o de autodesenvolvimento.
A hipercompetitividade, inaugurada em 1990 com a reengenharia, promoveu rupturas unilaterais de contratos, trocando-se funcionários leais por profissionais mais qualificados. Cuidar do próprio desenvolvimento passou a significar empregabilidade e crescimento de padrão de vida. A nova equação agora é: quanto mais diversificados são a experiência e o conhecimento, mais qualificado e comprometido é o profissional.
3. O vencedor sempre tem mais chance de vitória: Quem realizasse um excelente trabalho em alguma circunstância teria uma garantia de estabilidade, pois confiava-se que os resultados passados garantiriam os resultados futuros.
Em um mercado completamente mobilizado por inovação e totalmente globalizado, nunca mais isso será possível. Em algum lugar no mundo sempre haverá um profissional criativo, qualificado e com uma abordagem diferenciada podendo trazer um resultado melhor que o anterior.
4. O bom profissional sabe separar as coisas: esta sempre foi a diretriz corporativa para gestores manterem os problemas pessoais de suas equipes bem distantes da empresa. Atribuíam a essa diretriz conceitos de concentração e foco, buscando a redução de erros e o aumento de produtividade.
A dinâmica de vida atual, absolutamente inundada pela tecnologia de uso pessoal criou uma nova realidade, em que as pessoas passaram a integrar partes de suas funções profissionais no tempo que reservam a outras atividades. Pode-se afirmar que a vida profissional invadiu a vida pessoal. Como consequência, a expectativa dos profissionais também mudou e agora busca refletir a possibilidade de equilibrar o trabalho com as demais dimensões pessoais dando total importância a qualidade de vida.
5. Quanto mais tempo de casa, mais competente: superestimava-se a experiência corporativa de um profissional. Muitas vezes o julgamento se baseava em aspectos duvidosos, dando méritos ao funcionário que suportou pressões por anos, por isso era mais bem “forjado”. Normalmente isto proporcionava relevante diferencial no momento de serem escolhidos os futuros gestores. Ser “prata da casa” era 50% da exigência para se tornar gestor, mesmo que não houvesse qualificação técnica ou acadêmica.
Está é a característica mais subjetiva e complexa de hoje, pois alguns fatores contribuem para que ela ainda seja uma diretriz verdadeira em muitos aspectos.
O fator mais relevante é o aumento da expectativa de vida dos profissionais mais experientes, que passam a buscar a requalificação e a consequente manutenção de suas posições. Como possuem a experiência, tornam-se extremamente competentes apresentando resultados significativos para empresa.
Entretanto, há um efeito colateral nesse movimento de adaptação incomum no ambiente corporativo – é o atraso na formação de sucessores, principalmente na liderança. Com os profissionais veteranos apresentando resultados em padrões elevados de produtividade e erros menores, os desafios que propiciam o desenvolvimento não são apresentados aos profissionais mais jovens, provocando a desmotivação e, consequentemente o descompromisso com a empresa.
O jovem profissional é absolutamente aberto a novas oportunidades, pois tem consciência de que precisará de experiências diversificadas para ser considerado competente e qualificado. Ele não julga falta de lealdade estar aberto a outras oportunidades, aliás em muitos casos acredita que estará se qualificando ainda mais, até para uma futura oportunidade na empresa que está atualmente.
Esta fato certamente provoca muita controvérsia nas empresas, pois representa aumento de custos com contratação e treinamento de profissionais.
Todos estes aspectos refletem o atual estágio nas relações entre profissionais e empresas. Porém, não é o caso de elevar o jovem de hoje a uma categoria especial, promovendo mudanças apenas para atender seus caprichos e desejos. Tornou-se muito importante buscar a inovação nos modelos de gestão, resgatando premissas de mentoria e promovendo a devida contextualização para os novos comportamentos do jovens profissionais.
É no jovem que está a maior parte da solução, por isso é importante que ele tenha consciência de que “adiar” uma decisão já é uma escolha e, como tal, passiva de consequências em sua vida.
Atualmente, descobrir quais são as expectativas dos jovens se tornou um grande desafio para as gerações veteranas. Pais perdem a paciência com seus filhos, educadores sofrem com a insubordinação de seus alunos e gestores ficam perplexos diante da aparente falta de comprometimento e foco dos novos profissionais.
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